sexta-feira, 6 de junho de 2008

editorial





INVERSÃO DE PAPÉIS







Dia desses me peguei dando uma bronca na minha mãe. Isso porque ela insistia que não tinha problema em usar um cosmético já vencido. O argumento que ela usou foi que só fazia um mês que estava vencido e que não haveria problema. Para resumir, peguei o produto e eu mesma joguei fora, mas bem longe do lixo da casa dela.
Podemos analisar como sendo uma coisinha à toa entre mãe e filha, como de fato foi, mas o que observei nesse episódio foi uma inversão de papéis.
Pela lógica, as broncas, as orientações ou conselhos vêm sempre dos nossos pais ou até parentes mais próximos, mas nessa situação era eu quem assumia esse papel.
Desse dia em diante comecei a analisar mais isso e percebi que não só eu, mas também muitas pessoas que fazem parte do meu ciclo de amizade e, até as minhas primas, fazem o mesmo. É um tal de "não faz isso, não come aquilo, toma seu remédio, segue as orientações médicas, seca o cabelo, não volta tarde pra casa, e tudo isso é uma constante.
Uma das recomendações que ouvi partiu de uma prima: "Pai, a mãe chega no final da tarde no aeroporto, vai pegá-la, pois não posso, mas vai bem mais cedo pra você não precisar correr e, se o vôo atrasar, fica na casa da tia, não quero que você dirija à noite, é perigoso".
Outra também muito boa foi outra prima contando que a sua mãe se recusava a tomar os medicamentos passados pelo médico, dizia não precisar e que o médico não sabia de nada. Poderia aqui, citar inúmeras situações que ocorreram nesse sentido, mas confesso que o espaço não seria suficiente.
Engraçado ouvir esse tipo de coisa, esses "conselhos", cuidados e orientações que damos aos nossos pais, pois, quando partia deles para nós, detestávamos ouvir. Vai dizer que nunca fez de conta que ouvia, mas no fundo estava pensando em outra coisa, "estava em outro planeta"?
É, mas os tempos são outros e aos poucos estou percebendo que todos os cuidados que recebíamos antes, devem ser repassados para nossos pais.
Até conselho já dei para a minha mãe e ela não seguiu, mas o que eu previa, aconteceu e eu, claro disse: "se tivesse me ouvido, isso não teria acontecido".
O que quero dizer com tudo isso é que devemos olhar para o passado e agradecer também as broncas, os castigos e até as palmadas que recebemos, pois em função de todas essas ações é que hoje somos o que somos, apesar de na época não pensarmos dessa forma. Olhar para o passado e ver que hoje somos fortes o suficiente para amparar aqueles que nos apararam e que hoje precisam do nosso amparo, seja para um puxão de orelhas, um conselho, um ombro amigo e até somente ouvidos.





Diná de Mélo
jornalista do Portal dos Condomínios

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