sexta-feira, 5 de outubro de 2007

“Causos de condomínios” por Dr. Simão

O Mineirinho Aquele apartamento sempre deu problema. Foi comprado por uma empresa aqui da cidade e servia para as famílias de empregados que, quando transferidos, passavam alguns meses ocupando aquela unidade. Quando estava ocupado só por homens, ai era dureza. Bituca de cigarro era arremessada por todo o jardim, na maioria das vezes ainda acesa, pouco importando de quem era a cabeça atingida. Os moradores do prédio da frente eram obrigados a conviver com desfile de homens de cueca por todo começo de noite, o que deixava o interfone do apartamento do síndico parecendo uma cigarra. De tanta multa e discussão, inclusive com camburão da polícia na portaria, a empresa resolveu dar um basta, para a sorte do sindico. O apartamento ficou fechado por uns quatro meses até que foi ocupado por ele: Nércio, mineirinho de Borda da Mata, que trouxe a família para morar em Jundiaí. Nércio era um amor de criatura, fez amizade com todo mundo, até com a cachorrada do condomínio. Quando ia visitar a família trazia queijo e goiabada para todos, cachaça só por encomenda. O Mineirinho só tinha um problema: roncava, mas roncava muito. Ocupava o quinto andar, mas era ouvido do terceiro ao oitavo, dando a impressão que o prédio passava por reforma durante toda a madrugada. Os moradores começaram a reclamar para o sindico, que não agüentavam mais ouvir o ronco de Nércio, que durante o dia era um, ao anoitecer era outro. O síndico, com muito tato, marcou uma reunião com o mineirinho para expor o problema e, quem sabe juntos buscar a solução. Depois de expor o problema a Nércio este, abaixou a cabeça ficou uns dois minutos em silêncio total, e quando levantou disse: - Caixas de ovos. Esta é a solução para o problema. O senhor passa uma circular para os moradores guardarem as caixas, que eu vou fazer um quarto acústico para dormir e assim deixo todos em paz. O síndico achou estranha a solução, mas não custava tentar. Passou uma circular e em poucos dias começaram a chegar as primeiras caixas de ovos. Nércio começou a pregá-las nas paredes e em pouco tempo o barulho do ronco desapareceu. O mineirinho, tempos depois, confessou que sua família não se adaptou não apenas com a cidade, mas também não se adaptou com seu ronco, pois em sua casa, lá em Minas, já dormia em um quarto revestido com caixas de ovos. Dr. José Miguel Simão é advogado e cronista

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